Gentil Zanovello, presidente da entidade, comenta as principais temáticas do evento em 2024
No dia 28 de novembro, o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros no Estado de São Paulo (SETPESP) vai realizar mais uma edição de seu Seminário Técnico/Jurídico, dedicado a discutir o futuro do transporte rodoviário de passageiros, com uma abordagem que vai além das demandas imediatas do setor.
A programação inclui discussões sobre sustentabilidade, descarbonização, regulação setorial e novas tecnologias, temas essenciais para garantir a competitividade, a modernização dos serviços e o desenvolvimento do setor.
A Revista SOU + ÔNIBUS conversou sobre o evento com Gentil Zanovello, presidente do SETPESP e diretor-superintendente da Expresso Itamarati, que compartilhou sua visão sobre os desafios e as oportunidades que moldarão o transporte rodoviário nos próximos anos. Confira a seguir.
Revista SOU + ÔNIBUS – Qual a importância do Seminário Técnico/Jurídico do SETPESP para o setor de transporte rodoviário de passageiros e quais são os principais objetivos do evento?
Gentil Zanovello – O setor de transporte público vive um momento de grandes transformações, principalmente do ponto de vista da tecnologia dos veículos. Estamos numa fase de transição energética, com o surgimento de novas formas de equipar os veículos, em termos de motorização.
Atualmente, discutem-se carros elétricos, híbridos, movidos a célula de combustível e metano, com muitas pesquisas em andamento. Estamos em uma fase de transição tecnológica, em que ainda não se sabe qual tecnologia dominará. A escolha final será aquela que oferecer o melhor custo-benefício e capacidade universal de atendimento.
No setor urbano, já vemos veículos elétricos, mas, no transporte rodoviário, estimo que, em dois ou três anos, essas novas tecnologias começarão a se consolidar. Para ampliar essa percepção, um dos painéis do Seminário traz esse assunto.
Além disso, o setor também passa por grandes mudanças do ponto de vista regulatório, incluindo um novo marco regulatório da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em nível federal e a possível consolidação das agências em São Paulo. Palestrantes do evento irão discutir essas transformações.
A questão da segurança, de extrema importância no Brasil hoje, também será discutida. Queremos discutir como as empresas do setor privado podem ajudar na segurança pública, seja em nível estadual, seja nacional.
Revista SOU + ÔNIBUS – Em relação à transformação do setor, você mencionou inclusive a possibilidade da implementação de novas tecnologias no transporte rodoviário. Como você enxerga que o Seminário pode contribuir para essa transformação?
Gentil Zanovello – Acredito que o Seminário pode oferecer aos empresários e players do setor uma visão mais clara do futuro, abordando questões práticas, como o custo dos novos ônibus, o custo operacional e a disponibilidade de combustível.
Precisamos detalhar informações operacionais para que as empresas decidam sobre o investimento em novos veículos, e o Seminário poderá esclarecer as condições operacionais e tecnológicas destes veículos.
Revista SOU + ÔNIBUS – A trilha sobre Sustentabilidade e Segurança destaca a importância das novas tecnologias para a fiscalização. Para você, quais inovações terão maior impacto na garantia da segurança dos passageiros?
Gentil Zanovello – Atualmente, vivemos em um mundo completamente fiscalizado por câmeras e sensores. Hoje, existem mais de 900 câmeras em pedágios no estado de São Paulo com sistemas de monitoramento em funcionamento. Temos, portanto, condições de entender se cada ônibus que trafega por uma rodovia paulista é legal ou clandestino.
Não estamos lidando apenas com uma iniciativa privada, mas com uma questão que afeta a segurança pública. Acredito que o estado pode usar melhor essa tecnologia para ter amplo controle do transporte público. A segurança no setor está diretamente ligada à capacidade de monitoramento; sem controle adequado, é difícil saber o que está sendo transportado.
Queremos mostrar como o transporte regular colabora com a segurança pública. No transporte clandestino, existem rotas no estado de São Paulo usadas para tráfico de drogas e armas, por exemplo. O transporte público regular pode ajudar a combater essas práticas, e pretendemos demonstrar ao governo o papel essencial que desempenha na melhoria da segurança nas estradas.
Revista SOU + ÔNIBUS – Ainda sobre a questão da segurança, como as empresas privadas podem contribuir para isso?
Gentil Zanovello – Atualmente, as empresas investem em segurança com tecnologias como a telemetria, que permite monitorar os motoristas em tempo real. Muitos ônibus das principais empresas do estado estão equipados com sistemas de inteligência artificial que detectam o uso do celular e avaliam a condução segura.
As empresas também possuem centros de controle operacional, que monitoram a estrada em tempo real, oferecendo suporte contínuo. O motorista não está mais sozinho e tem apoio durante toda a viagem. Isso melhora significativamente a segurança, assegurando o cumprimento de limites de velocidade e normas. O seminário mostrará como essa tecnologia atua e contribui para a proteção dos passageiros.
Revista SOU + ÔNIBUS – Sobre a descarbonização, quais são as principais barreiras que o setor enfrenta de forma geral e como a SETPESP está trabalhando para superar essas dificuldades?
Gentil Zanovello – Hoje, a grande barreira é tecnológica. É importante destacar que, desde 2023, as empresas já trabalham com a tecnologia Euro 6, que representa uma redução significativa nos níveis de poluição dos veículos a diesel.
Além disso, há várias alternativas sendo estudadas, como hidrogênio, carro híbrido a metanol, carro híbrido a gás metano e até mesmo o carro movido integralmente a biodiesel. No entanto, ainda não há uma tecnologia consolidada.
O SETPESP está avaliando tecnologias disponíveis e já selecionou algumas para uso imediato. Estamos desenvolvendo um projeto-piloto e finalizando a escolha dos fornecedores.
A ideia é operar esses veículos em linhas regulares, provavelmente entre São Paulo e Campinas ou Sorocaba, a fim de avaliar o custo operacional, a redução de emissões e a viabilidade da tecnologia. O teste será realizado em operação normal e monitorado de perto para um controle mais eficaz dos resultados.
Pretendemos utilizar a tecnologia híbrida com etanol, que está mais próxima da realidade e é amplamente disponível em São Paulo, facilitando a implementação. O objetivo é ter esses veículos em operação até janeiro de 2025. Um dos palestrantes do evento, inclusive, abordará o diesel verde, explorando a sua viabilidade para o futuro.
Por Nathalia Abreu
*A entrevista foi publicada na 46a edição da revista SOU + ÔNIBUS, uma publicação da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado de São Paulo (FETPESP).
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